terça-feira, 29 de junho de 2010

A escrita no ambiente virtual

O programa Login apresentado pela TV Cultura em Abril do corrente ano, traz uma entrevista com o tema “O internetês é uma nova linguagem?” Tendo como um dos entrevistados o linguista e professor da USP – Universidade de São Paulo Emílio Paggoto. Sabe-se que a gramática é uma referência de escrita correta, porém com o avanço das Tecnologias de Comunicação e Informação - TIC’s e com ela as Tecnologias Intelectuais – TI (Orkut, Weblog, Twitter, Chat, etc), surge uma nova forma de comunicação, o internetês: linguagem/código escrito utilizado pelos internautas no ambiente virtual. Segundo BISOGNIN (2009, p.8) "o internetês é uma recriação gráfica das línguas escrita e falada preexistentes, enriquecida com representações e simbologias". É uma linguagem/código escrito criada para agilizar a comunicação no ambiente virtual, principalmente em sites de relacionamentos como o Orkut, Blog, E-mail, Chat, etc. Nos três primeiros a comunicação se dá de forma assíncrona, ou seja, a mensagem é escrita, mas, a resposta não se dá de imediato, enquanto o chat (bate-papo) a comunicação é síncrona, pois escrevemos a mensagem e obtemos a resposta no mesmo instante. Mas, estaria a ortografia ameaçada por essa nova forma de comunicação? Segundo Pagotto não, pois a internet trouxe a escrita de volta, ou seja, através das TIC’s, ela trouxe os jovens para dentro do universo da escrita, pois para ele a mesma vinha se perdendo desde a década de 1970. Vale ressaltar que a internet tem muitas funcionalidades, mas é a comunicação a sua principal característica. Segundo Bisognin

A internet é um novo ambiente de enunciação cultural, com múltiplas linguagens, possibilidades de interações, velocidades acelerada de informação e estrutura multimidiática. Ela suscita e expressa um ambiente de comunicação diferenciado. Isso pode ser percebido até nas formas de escrever utilizadas pelos internautas, principalmente pelos jovens, na comunicação eletrônica: interferem sobre a escrita culta padrão para interagir [...] Aparentemente há uma forma específica de comunicação utilizada em relação com a língua materna culta. ( BISOGNIN, 2009, pp 13-4-6)

Como imaginamos, essa nova forma de escrever não influencia tanto na escrita da escola, ainda é pouco o que se ver de transferência, pois o jovem sabe que é necessário dominar as duas formas da língua, no entanto, vale lembrar que existem sim abreviações de algumas palavras como por exemplo: vc (você), tbm (também), etc. Segundo os entrevistados essas abreviações aparecerem bem antes da internet, pois, o professor abrevia na lousa e também estas eram usadas em telegramas.

O internetês por ser uma linguagem que pede agilidade necessita das abreviações, pois, dependendo da tecnologia intelectual utilizada a comunicação se dá com várias pessoas ao mesmo tempo. Segundo Bisognin, “não podemos esquecer que a escrita alterada pelos jovens na internet é uma representação da linguagem, a qual, por sua vez, associa-se ao pensamento”. (BISOGNIN, 2009, p. 23). E é nesse ambiente de interação, que o internauta usa a escrita para marcar sua identidade e é através da escrita que podemos identificar o grau de instrução do usuário.

Pagotto lembra que no internetês estão concentradas todas as formas e fases que os sistemas de escrita passaram na história da humanidade e especificamente em relação às abreviaturas, desde que se escreve português a presença das mesmas eram maciças em textos manuscritos. Com isso vale lembrar que os jovens sabem o momento ideal de fazer uso das abreviações, como também é papel do profissional de educação lembrá-los que o uso só é válido em ambientes virtuais e, não são aceitos na formalidade, em especifico nas redações de vestibulares.

Sendo a escrita uma representação gráfica do discurso, no ambiente virtual não é diferente, pois, segundo Barreto e Baldinotti (2005, p.25), “emissor e receptor negociam um com o outro o código e o sentido que as palavras devem assumir durante o ato linguístico-comunicativo”. Os mesmos autores citam Jacobson

Existe, pois, na combinação de unidades linguísticas, uma escala ascendente de liberdade. Na combinação de traços distintivos em fonemas, a liberdade individual do que fala é nula; o código já estabeleceu todas as possibilidades que podem ser utilizadas na língua em questão. A liberdade de combinar fonemas em palavras está circunscrita; está limitada à situação marginal de criação de palavras... Ao formar frases com palavras, o que fala sofre menor coação. E, finalmente, na combinação de frases em enunciados, cessa a ação de regras coercitivas da sintaxe e a liberdade de qualquer indivíduo para criar novos contextos cresce substancialmente, embora não se deva subestimar o número de enunciados estereotipados. (JACOBSON, apud BARRETO; BALDINOTTI 2005, p.23)

A linguagem é facilitada, há liberdade em combinar fonemas, utilização de sinais de pontuação para expressar sentimentos e emoções, uso excessivo de abreviaturas. Pagotto lembra que as abreviações são feitas a partir das consoantes, para ele, “o que está acontecendo no internetês, é o mesmo que aconteceu no início da escrita alfabética, é uma escrita silábica, porque a vogal ela é relativamente predizível enquanto que a consoante não é”, ou seja, o sujeito ao fazer uso do internetês, no seu inconsciente ele sabe como é a sílaba do português. No entanto, para que haja comunicação, a linguagem/código tem que ser compreendida e é necessário haver um conhecimento linguístico, ter familiaridade com a internet, caso contrário, não haverá comunicação.



Referências


BARRETO; R. P.; BALDINOTTI, Sérgio. Ciberdiscurso e Interculturalidade na Web. Tangará da Serra [MT], 2005.
_____ Tecnologias intelectuais e linguagens na cultura do novo capitalismo. 2009 (Prelo)

BISOGNIN, Tadeu Rossato. Sem medo do internetês. – Porto Alegre, RS: AGE, 2009.

http://www.tvcultura.com.br/login/videos/naintegra/2010-04-28/25730

3 comentários:

  1. Às vezes, percebo as abreviações usadas na internet nos textos escritos de meus alunos e aproveito para ressaltar que na rede aquele hábito é válido, mas no papel formal, não. Tbm não estou 100% familiarizada com o internetês; preciso dominar o novo código!!

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  2. Muito boa percepção nesse texto. Parabéns! A pesquisa que desenvolvo precisa está ganhando corpo e você será muito bem vida para construirmos essas discussão. Sucesso!

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  3. Seria uma honra trabalhar com vc. Obrigada pelo apoio e pela confiança. Bjoss

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