Trabalho apresentado no Iº Identidade e Docência - 2011
WEBLOG:
UM NOVO ESPAÇO DE ESCRITA
Introdução
Este artigo tem por intuito
apresentar um relato de experiências sobre o uso das TIC como ferramenta
educacional extraclasse, em especial o Weblog.
Esse trabalho foi desenvolvido em duas turmas do ensino fundamental II da
Escola Municipal Antônio Carlos Magalhães, em Irecê- Ba. O objetivo era
observar a escrita desses alunos na escola e levá-las ao blog para que estes
tivessem acesso a suas produções e futuras correções. A metodologia aqui
empregada é de base etnometodológica, pois a mesma considera a realidade
socialmente construída pelos sujeitos, sua vida cotidiana e as relações sociais
produzidas a partir de suas vivências. Segundo Coulon, citado por Rivero
A
etnometodologia é a pesquisa empírica dos métodos que os indivíduos utilizam
para dar sentido e ao mesmo tempo realizar as suas ações de todos os dias:
comunicar-se, tomar decisões, raciocinar. Para os etnometodólogos, a
etnometodologia será, portanto, o estudo dessas atividades cotidianas, quer
sejam triviais ou eruditas, considerando que a própria sociologia deve ser
considerada como uma atividade prática. (COULON apud RIVERO, sd, p.4).
A partir
dessa concepção, podemos compreender as construções sociais que permeiam as
nossas conversas, nossos gestos, nossa comunicação e interação com a sociedade.
Com o advento e acentuado uso das tecnologias,
em especial as tecnologias intelectuais (weblog,
Orkut, facebook) e sabendo que boa parte dos alunos tem acesso a essas
mídias, foi que se pensou num trabalho voltado para o uso dessa tecnologia extraclasse,
pois a referida instituição apesar de ter um laboratório de informática com
todos os equipamentos, este se encontra temporariamente indisponível para o
uso, pois a sala onde está localizado, no momento funciona a secretaria.
Desse modo surge o
questionamento: como promover a interação com os alunos através desse espaço de
produção de escrita e de conhecimento se não disponibilizamos de um ambiente para
o uso dos equipamentos? Partindo do pressuposto de que boa parte dos alunos tem
conhecimento e acesso a internet em casa e/ou lan-house, não seria inviável a
proposta, mesmo não sendo fácil tentaríamos interagir com os alunos e realizar
um trabalho significativo utilizado o weblog.
Foi nesta perspectiva que iniciamos as atividades.
Weblog: uma ferramenta de interação e
construção do conhecimento
Com o avanço das
tecnologias de comunicação e informação (TIC’s), surgem novas formas de
comunicação e interação. Segundo Marcuschi (2010, p.31) “todas as tecnologias
educacionais novas geram ambientes e meios novos”, o weblog é uma delas. O termo weblog
foi criado por Jom Barger em 1997 e, segundo algumas definições, significa:
diário digital na internet; diário virtual etc. Neste novo espaço de escrita,
de interação e construção do conhecimento, o cibernauta poderá postar textos
utilizando uma linguagem diferenciada, além de utilizá-lo como diário, este
poderá servir de suporte para muitos outros gêneros.
A priori, se pensou em
utilizar o espaço para socialização das atividades extraclasse, com isso,
utilizaríamos o blog como suporte dos
gêneros trabalhos em sala de aula. A proposta foi discutida juntamente com a
turma e então criamos o blog – “Além
da sala de aula” –. A primeira atividade proposta para o 7º ano foi fazer a
leitura de um texto informativo voltado à sociedade e cultura, principalmente
no modo como eram tratadas as mulheres na sociedade. Como estávamos na semana
da mulher foi pedido que cada aluno produzisse um texto falando sobre o
preconceito que a mulher vinha sofrendo ao longo de toda a história. Alguns
textos foram postados sem nenhuma correção, pois estas seriam feitas em sala de
aula.
Para que houvesse uma aprendizagem
significativa, propusemos que visitassem o blog, fizessem a leitura dos posts e
verificassem a sua escrita e consequentemente a dos colegas. Com isso, estariam
enriquecendo seus conhecimentos. Para Lévy é a chamada inteligência coletiva,
pois, segundo ele
É uma
inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente valorizada, coordenada
em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das correspondências
[...] a base da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento
mútuo das pessoas, e não o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas.
(LÉVY, 2007, p. 28-29).
A partir do momento em
que eles têm acesso a outros ambientes de escrita e que se veem capazes de
escrever, de interagir com os colegas, entenderão que ninguém sabe tudo e que
juntos podem aprender mais, com isso poderão se tornar sujeitos mais críticos percebendo
que os saberes se constroem na coletividade.
Construindo esses
saberes coletivamente, continuamos com os nossos trabalhos sempre na mesma
perspectiva, leitura, discussões, vídeos, áudios, produções e postagens. Além
disso, buscou-se também uma interação entre alunos e professor, pois, após
fazerem a leitura no ciberespaço, tem-se um espaço para interação, e esta não
acontece somente entre comentaristas, mas segundo Recuero,
[...] é possível
realizar um diálogo não apenas entre os comentaristas, mas também com o autor
do blog. Trata-se de uma interação construída, negociada e criativa. É possível
observar-se em um blog não apenas a interação em um comentário, mas as relações
entre as várias interações e perceber-se que tipo de relação transpira através
daquelas trocas. (RECUERO, 2009, p.33).
Essa interação não
acontecia como esperado, pois relatava a falta de computador com acesso a
internet em casa, e muitas vezes falta de dinheiro para acessá-lo em lan-house.
Mas o que na verdade se pôde perceber foi à falta de compromisso por falta de muitos
alunos, porém o trabalho não para por aí.
Com a turma de 6º ano, foram
trabalhados alguns contos - Uma vela para Dario - Dalton Trevisan; A doida - Drummond,
dentre outros. Esses textos foram trabalhados de forma dinâmica, além de
utilizarmos os contos impressos e assistirmos aos curtas baseados nas obras,
conhecemos vários outros, tudo bem dinâmico, especialmente porque se trata de
uma turma de 6º ano que se encontra com dificuldades de leitura e interpretação,
por isso se fez necessário utilizar de vários recursos didáticos. O que se pretendeu no início foi apresentar
aos alunos, a estrutura de um conto, a linguagem utilizada, os personagens, a
ação o espaço, enfim o desenrolar de toda a narrativa.
Depois de todo esse
processo, foi pedido que cada aluno produzisse o seu conto, seguindo todas as
orientações que tinham, tanto em seus cadernos, como as que foram passadas
oralmente. Depois de tanta resistência
em produzir, foram recolhidos, postados no blog e pedido que cada um fosse
visitá-lo e fizessem as leituras, algumas observações e comentários. É bom ressaltar que todos os posts são
originais, não sofreram correção antes de serem postadas, essas aconteceriam em
sala de aula.
Desse modo, estaríamos utilizando
os gêneros tradicionais escritos em sala de aula, bem como os oriundos das
novas tecnologias – o weblog. Todos os
gêneros oriundos das novas tecnologias estão ligados à escrita, assim afirma
Marcuschi
O
fato inconteste é que a internet e todos os gêneros a ela ligados são eventos
textuais fundamentalmente baseados na escrita. Na internet, a escrita continua
essencial apesar da integração de imagens e de som. Por outro lado, a ideia que
hoje prolifera quanto haver uma “fala por escrita” deve ser vista com cautela,
pois o que se nota é um hibridismo mais acentuado, algo nunca visto antes,
inclusive com o acumulo de representações semióticas. (MARCUSHI, 2010, p. 22)
Mesmo utilizado de uma gama de
gêneros textuais tradicionais ou oriundos das TIC, percebe-se a falta de
interesse nesses alunos em leitura e produção. Eles se encontram em defasagem
idade/série, talvez esteja ai a resposta para a falta de interesse. Justamente por
estarem em defasagem, procuramos a cada texto levado à para sala de aula, tê-lo
em outro suporte, seja numa canção, num curta etc., para que com isso a aula
fique mais atrativa e que a partir dai eles tenham interesse em ler e produzir.
Os trabalhos com leitura e produção
nos dois espaços – classe e weblog –
continuavam, seguindo a mesma metodologia. Como estávamos trabalhando com
contos, foi a vez de Clarice Lispector, trabalhamos o conto “Felicidade
Clandestina”. Eles tiveram acesso tanto ao texto tradicional escrito, como o
texto fílmico, como relatado anteriormente, tentamos trabalhar com o mesmo
gênero em suportes diferenciados. Assistiram ao curta, fizeram a leitura do
conto e só depois foi pedido que fizessem um resumo, observando a diferença do
texto nos dois suportes apresentados. Como de praxe, fizemos os posts sem
nenhuma correção.
Num momento posterior, trabalhamos
com alguns contos dos Irmãos Grimm, logo depois assistimos ao filme, discutimos
algumas questões observadas na narrativa e posteriormente produziram um resumo.
Esta atividade foi feita com as duas turmas 6º e 7º. Como vinha percebendo, a
interação via ciberespaço não estava acontecendo, todos os dias na classe,
cobrava a visita e os comentários nas postagens, pois assim como discutido por
alguns autores, também acreditamos no potencial da estrita no desenvolvimento
cognitivo dos seres humanos. Ong citado
por Freitas diz que
[...] Sem a escrita, a mente letrada não pensaria e
não podia pensar como pensa, não apenas quando se ocupa da escrita, mas
normalmente, até mesmo quando está compondo seus pensamentos de forma oral.
Mais do que qualquer outra invenção individual, a escrita transformou a
consciência humana. (ONG apud
FREITAS, 2006, p. 31).
O que o autor vem dizer é que a escrita é capaz de transformar a mente e
reestruturar a consciência. A partir do momento que o sujeito ler e escreve,
ele é capaz de manipular qualquer pessoa que não tenha conhecimento de leitura.
Nós seres humanos, somos os únicos seres capazes de nos comunicar, de
transformar e conhecer o mundo através da leitura e escrita. Tendo o
conhecimento dessa realidade, tentamos incentivar os alunos ao máximo para que
se apossem das leituras, sejam elas no ciberespaço, livros ou outros suportes,
pois, a partir dai poderão se tornar sujeitos críticos e conhecedores dos seus
direitos e deveres, pois segundo Vigotsky e Luria apud Freitas, “a escrita além de permitir fazer coisas novas,
transforma a fala e a linguagem em objetos de reflexão”.
Depois de algumas experiências na
leitura e produção de contos, começamos a trabalhar com o gênero memória.
Trouxemos para as turmas, o conceito e as características do gênero, também, alguns
textos para que eles tivessem como exemplo e depois pedido que cada um fizesse
a sua “memória”, contando fatos que marcaram sua infância, sua primeira experiência
na escola, como aprenderam a ler e escrever, e depois socializasse para a
turma, essa produção não foi postada no blog. A proposta posterior foi de cada
um fazer uma entrevista com uma pessoa mais velha, poderia ser um avô (ó),
contando que este tivesse mais de 50 anos, feito isso, a partir do texto
postado no blog “Recordar é viver”, eles já poderiam começar suas produções.
Consegui essas produções do 7º ano, logo, fiz os posts no blog, depois foram
corrigidas e devolvidas a seus respectivos donos para uma reescrita.
Depois
de tudo isso, propus em fazer um trabalho diferenciado que posteriormente será
postado no blog – um documentário sobre os jovens de ontem em contraponto com
os jovens de hoje. O ideal desse trabalho, é que além de conhecer a escrita no
ciberespaço, eles terão contato com outras mídias digitais.
Conclusões preliminares
O que se pretendeu com esse trabalho, foi apresentar a experiência com o
uso das TIC extraclasse, buscando através do espaço do weblog uma interação entre professor e alunos. Buscou-se neste
percurso – que não acaba aqui – levar aos alunos uma nova forma de leitura e
escrita, para que eles se sentissem mais motivados – textos com suportes
tradicionais, texto fílmico, áudio, etc., percebemos que em sala de aula eles
faziam a leitura, interagiam, produziam seus textos, resumos, mesmo que com
muita resistência, mas em se tratando do ciberespaço, estes não tinham
interesse nenhum em fazer a visita e comentários nas suas atividades postadas
no blog.
Mas seria possível essa
interação se a escola em questão não disponibiliza até o momento de um espaço
para socialização dessas atividades? Como relatado anteriormente, o nosso
laboratório se encontra indisponível por falta de espaço. Tentamos, portanto,
compreender que talvez fosse essa a falha no nosso trabalho, mas sei também que
esses mesmo alunos tem acesso à internet fora da escola, então, não seria esse
o problema. Teriam eles interesse em perder uma hora, trinta minutos fazendo
leitura se nesse mesmo tempo eles poderiam visitar suas redes sociais? Desse
modo, compreendemos que houve interação, mas não da maneira que vinha
pretendendo, compreendemos também que não basta levar textos, é preciso
motiva-los para que eles compreendam que só é possível aprender algo através
das interações, sejam elas face a face ou no ciberespaço. Seguirá em anexo
algumas das atividades que fizemos na sala e que foram levadas ao blog, estas
foram corrigidas na classe.
Referências:
LÉVY, Pierre. Inteligência coletiva. Por uma antropologia do ciberespaço. 5.
ed. São Paulo, Edições Loiola, 2007.
MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, Antônio
Carlos. Hipertexto e gêneros digitais:
novas formas de construção de sentido. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
FREITAS,
Maria Teresa de Assunção. Leitura e escrita
de adolescentes na internet e na escola.
2.ed. – Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
RIVERO,
Cléia Maria da Luz. Etnometodologia Na Pesquisa
Qualitativa Em Educação – caminhos para uma síntese. Disponível em:.sepq.org.br /IIsipeq/ anais/pdf /mr2/mr2
_ 5.pdf
Anexos
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