quarta-feira, 23 de maio de 2012


Trabalho apresentado no Iº Identidade e Docência - 2011

WEBLOG: UM NOVO ESPAÇO DE ESCRITA


Introdução

Este artigo tem por intuito apresentar um relato de experiências sobre o uso das TIC como ferramenta educacional extraclasse, em especial o Weblog. Esse trabalho foi desenvolvido em duas turmas do ensino fundamental II da Escola Municipal Antônio Carlos Magalhães, em Irecê- Ba. O objetivo era observar a escrita desses alunos na escola e levá-las ao blog para que estes tivessem acesso a suas produções e futuras correções. A metodologia aqui empregada é de base etnometodológica, pois a mesma considera a realidade socialmente construída pelos sujeitos, sua vida cotidiana e as relações sociais produzidas a partir de suas vivências. Segundo Coulon, citado por Rivero

A etnometodologia é a pesquisa empírica dos métodos que os indivíduos utilizam para dar sentido e ao mesmo tempo realizar as suas ações de todos os dias: comunicar-se, tomar decisões, raciocinar. Para os etnometodólogos, a etnometodologia será, portanto, o estudo dessas atividades cotidianas, quer sejam triviais ou eruditas, considerando que a própria sociologia deve ser considerada como uma atividade prática. (COULON apud RIVERO, sd, p.4).

A partir dessa concepção, podemos compreender as construções sociais que permeiam as nossas conversas, nossos gestos, nossa comunicação e interação com a sociedade.
 Com o advento e acentuado uso das tecnologias, em especial as tecnologias intelectuais (weblog, Orkut, facebook) e sabendo que boa parte dos alunos tem acesso a essas mídias, foi que se pensou num trabalho voltado para o uso dessa tecnologia extraclasse, pois a referida instituição apesar de ter um laboratório de informática com todos os equipamentos, este se encontra temporariamente indisponível para o uso, pois a sala onde está localizado, no momento funciona a secretaria.
Desse modo surge o questionamento: como promover a interação com os alunos através desse espaço de produção de escrita e de conhecimento se não disponibilizamos de um ambiente para o uso dos equipamentos? Partindo do pressuposto de que boa parte dos alunos tem conhecimento e acesso a internet em casa e/ou lan-house, não seria inviável a proposta, mesmo não sendo fácil tentaríamos interagir com os alunos e realizar um trabalho significativo utilizado o weblog. Foi nesta perspectiva que iniciamos as atividades.

Weblog: uma ferramenta de interação e construção do conhecimento

Com o avanço das tecnologias de comunicação e informação (TIC’s), surgem novas formas de comunicação e interação. Segundo Marcuschi (2010, p.31) “todas as tecnologias educacionais novas geram ambientes e meios novos”, o weblog é uma delas. O termo weblog foi criado por Jom Barger em 1997 e, segundo algumas definições, significa: diário digital na internet; diário virtual etc. Neste novo espaço de escrita, de interação e construção do conhecimento, o cibernauta poderá postar textos utilizando uma linguagem diferenciada, além de utilizá-lo como diário, este poderá servir de suporte para muitos outros gêneros.
A priori, se pensou em utilizar o espaço para socialização das atividades extraclasse, com isso, utilizaríamos o blog como suporte dos gêneros trabalhos em sala de aula. A proposta foi discutida juntamente com a turma e então criamos o blog – “Além da sala de aula” –. A primeira atividade proposta para o 7º ano foi fazer a leitura de um texto informativo voltado à sociedade e cultura, principalmente no modo como eram tratadas as mulheres na sociedade. Como estávamos na semana da mulher foi pedido que cada aluno produzisse um texto falando sobre o preconceito que a mulher vinha sofrendo ao longo de toda a história. Alguns textos foram postados sem nenhuma correção, pois estas seriam feitas em sala de aula.
Para que houvesse uma aprendizagem significativa, propusemos que visitassem o blog, fizessem a leitura dos posts e verificassem a sua escrita e consequentemente a dos colegas. Com isso, estariam enriquecendo seus conhecimentos. Para Lévy é a chamada inteligência coletiva, pois, segundo ele

É uma inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das correspondências [...] a base da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas, e não o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas. (LÉVY, 2007, p. 28-29).

A partir do momento em que eles têm acesso a outros ambientes de escrita e que se veem capazes de escrever, de interagir com os colegas, entenderão que ninguém sabe tudo e que juntos podem aprender mais, com isso poderão se tornar sujeitos mais críticos percebendo que os saberes se constroem na coletividade.
Construindo esses saberes coletivamente, continuamos com os nossos trabalhos sempre na mesma perspectiva, leitura, discussões, vídeos, áudios, produções e postagens. Além disso, buscou-se também uma interação entre alunos e professor, pois, após fazerem a leitura no ciberespaço, tem-se um espaço para interação, e esta não acontece somente entre comentaristas, mas segundo Recuero,

[...] é possível realizar um diálogo não apenas entre os comentaristas, mas também com o autor do blog. Trata-se de uma interação construída, negociada e criativa. É possível observar-se em um blog não apenas a interação em um comentário, mas as relações entre as várias interações e perceber-se que tipo de relação transpira através daquelas trocas. (RECUERO, 2009, p.33).

Essa interação não acontecia como esperado, pois relatava a falta de computador com acesso a internet em casa, e muitas vezes falta de dinheiro para acessá-lo em lan-house. Mas o que na verdade se pôde perceber foi à falta de compromisso por falta de muitos alunos, porém o trabalho não para por aí.
Com a turma de 6º ano, foram trabalhados alguns contos - Uma vela para Dario - Dalton Trevisan; A doida - Drummond, dentre outros. Esses textos foram trabalhados de forma dinâmica, além de utilizarmos os contos impressos e assistirmos aos curtas baseados nas obras, conhecemos vários outros, tudo bem dinâmico, especialmente porque se trata de uma turma de 6º ano que se encontra com dificuldades de leitura e interpretação, por isso se fez necessário utilizar de vários recursos didáticos.  O que se pretendeu no início foi apresentar aos alunos, a estrutura de um conto, a linguagem utilizada, os personagens, a ação o espaço, enfim o desenrolar de toda a narrativa.
Depois de todo esse processo, foi pedido que cada aluno produzisse o seu conto, seguindo todas as orientações que tinham, tanto em seus cadernos, como as que foram passadas oralmente.  Depois de tanta resistência em produzir, foram recolhidos, postados no blog e pedido que cada um fosse visitá-lo e fizessem as leituras, algumas observações e comentários.  É bom ressaltar que todos os posts são originais, não sofreram correção antes de serem postadas, essas aconteceriam em sala de aula.
Desse modo, estaríamos utilizando os gêneros tradicionais escritos em sala de aula, bem como os oriundos das novas tecnologias – o weblog. Todos os gêneros oriundos das novas tecnologias estão ligados à escrita, assim afirma Marcuschi

O fato inconteste é que a internet e todos os gêneros a ela ligados são eventos textuais fundamentalmente baseados na escrita. Na internet, a escrita continua essencial apesar da integração de imagens e de som. Por outro lado, a ideia que hoje prolifera quanto haver uma “fala por escrita” deve ser vista com cautela, pois o que se nota é um hibridismo mais acentuado, algo nunca visto antes, inclusive com o acumulo de representações semióticas. (MARCUSHI, 2010, p. 22)       


            Mesmo utilizado de uma gama de gêneros textuais tradicionais ou oriundos das TIC, percebe-se a falta de interesse nesses alunos em leitura e produção. Eles se encontram em defasagem idade/série, talvez esteja ai a resposta para a falta de interesse. Justamente por estarem em defasagem, procuramos a cada texto levado à para sala de aula, tê-lo em outro suporte, seja numa canção, num curta etc., para que com isso a aula fique mais atrativa e que a partir dai eles tenham interesse em ler e produzir.
            Os trabalhos com leitura e produção nos dois espaços – classe e weblog – continuavam, seguindo a mesma metodologia. Como estávamos trabalhando com contos, foi a vez de Clarice Lispector, trabalhamos o conto “Felicidade Clandestina”. Eles tiveram acesso tanto ao texto tradicional escrito, como o texto fílmico, como relatado anteriormente, tentamos trabalhar com o mesmo gênero em suportes diferenciados. Assistiram ao curta, fizeram a leitura do conto e só depois foi pedido que fizessem um resumo, observando a diferença do texto nos dois suportes apresentados. Como de praxe, fizemos os posts sem nenhuma correção. 
            Num momento posterior, trabalhamos com alguns contos dos Irmãos Grimm, logo depois assistimos ao filme, discutimos algumas questões observadas na narrativa e posteriormente produziram um resumo. Esta atividade foi feita com as duas turmas 6º e 7º. Como vinha percebendo, a interação via ciberespaço não estava acontecendo, todos os dias na classe, cobrava a visita e os comentários nas postagens, pois assim como discutido por alguns autores, também acreditamos no potencial da estrita no desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. Ong citado por Freitas diz que

[...] Sem a escrita, a mente letrada não pensaria e não podia pensar como pensa, não apenas quando se ocupa da escrita, mas normalmente, até mesmo quando está compondo seus pensamentos de forma oral. Mais do que qualquer outra invenção individual, a escrita transformou a consciência humana. (ONG apud FREITAS, 2006, p. 31).

               O que o autor vem dizer é que a escrita é capaz de transformar a mente e reestruturar a consciência. A partir do momento que o sujeito ler e escreve, ele é capaz de manipular qualquer pessoa que não tenha conhecimento de leitura. Nós seres humanos, somos os únicos seres capazes de nos comunicar, de transformar e conhecer o mundo através da leitura e escrita. Tendo o conhecimento dessa realidade, tentamos incentivar os alunos ao máximo para que se apossem das leituras, sejam elas no ciberespaço, livros ou outros suportes, pois, a partir dai poderão se tornar sujeitos críticos e conhecedores dos seus direitos e deveres, pois segundo Vigotsky e Luria apud Freitas, “a escrita além de permitir fazer coisas novas, transforma a fala e a linguagem em objetos de reflexão”.
               Depois de algumas experiências na leitura e produção de contos, começamos a trabalhar com o gênero memória. Trouxemos para as turmas, o conceito e as características do gênero, também, alguns textos para que eles tivessem como exemplo e depois pedido que cada um fizesse a sua “memória”, contando fatos que marcaram sua infância, sua primeira experiência na escola, como aprenderam a ler e escrever, e depois socializasse para a turma, essa produção não foi postada no blog. A proposta posterior foi de cada um fazer uma entrevista com uma pessoa mais velha, poderia ser um avô (ó), contando que este tivesse mais de 50 anos, feito isso, a partir do texto postado no blog “Recordar é viver”, eles já poderiam começar suas produções. Consegui essas produções do 7º ano, logo, fiz os posts no blog, depois foram corrigidas e devolvidas a seus respectivos donos para uma reescrita.
             Depois de tudo isso, propus em fazer um trabalho diferenciado que posteriormente será postado no blog – um documentário sobre os jovens de ontem em contraponto com os jovens de hoje. O ideal desse trabalho, é que além de conhecer a escrita no ciberespaço, eles terão contato com outras mídias digitais.
              

Conclusões preliminares
  
               O que se pretendeu com esse trabalho, foi apresentar a experiência com o uso das TIC extraclasse, buscando através do espaço do weblog uma interação entre professor e alunos. Buscou-se neste percurso – que não acaba aqui – levar aos alunos uma nova forma de leitura e escrita, para que eles se sentissem mais motivados – textos com suportes tradicionais, texto fílmico, áudio, etc., percebemos que em sala de aula eles faziam a leitura, interagiam, produziam seus textos, resumos, mesmo que com muita resistência, mas em se tratando do ciberespaço, estes não tinham interesse nenhum em fazer a visita e comentários nas suas atividades postadas no blog.
                        Mas seria possível essa interação se a escola em questão não disponibiliza até o momento de um espaço para socialização dessas atividades? Como relatado anteriormente, o nosso laboratório se encontra indisponível por falta de espaço. Tentamos, portanto, compreender que talvez fosse essa a falha no nosso trabalho, mas sei também que esses mesmo alunos tem acesso à internet fora da escola, então, não seria esse o problema. Teriam eles interesse em perder uma hora, trinta minutos fazendo leitura se nesse mesmo tempo eles poderiam visitar suas redes sociais? Desse modo, compreendemos que houve interação, mas não da maneira que vinha pretendendo, compreendemos também que não basta levar textos, é preciso motiva-los para que eles compreendam que só é possível aprender algo através das interações, sejam elas face a face ou no ciberespaço. Seguirá em anexo algumas das atividades que fizemos na sala e que foram levadas ao blog, estas foram corrigidas na classe.
                

Referências:

LÉVY, Pierre. Inteligência coletiva. Por uma antropologia do ciberespaço. 5. ed. São Paulo, Edições Loiola, 2007.
MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, Antônio Carlos. Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
FREITAS, Maria Teresa de Assunção. Leitura e escrita de adolescentes na internet e na escola. 2.ed. – Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
RIVERO, Cléia Maria da Luz. Etnometodologia Na Pesquisa Qualitativa Em Educação – caminhos para uma síntese. Disponível em:.sepq.org.br /IIsipeq/ anais/pdf /mr2/mr2 _ 5.pdf




Anexos

























Nenhum comentário:

Postar um comentário